A residência aparece como local de 72% dos feminicídios, o que reforça um dado amplamente reconhecido no campo da violência de gênero: o lar é o principal cenário de risco e não o espaço público. Delegada Judá Maali Marcondes, que comanda a Delegacia Especializada de Defesa da Mulher (DEDM) da Capital enfatiza que, infelizmente, observa-se que muitas mulheres não acreditam que possam tornar-se vítimas de feminicídio.
“Esse é um fenômeno recorrente nas dinâmicas de violência doméstica: a dificuldade da vítima em identificar a progressão do risco, mesmo quando o agressor já apresenta sinais objetivos de perigo”. A violência psicológica e o controle coercitivo exercidos pelo agressor produzem um estado de vulnerabilidade que compromete a percepção da realidade e, conforme a delegada, a mulher, gradualmente, passa a naturalizar comportamentos abusivos, como o isolamento social, o monitoramento constante, as ameaças indiretas, o ciúme excessivo e a diminuição sistemática de sua autoestima.
“Esses elementos, embora silenciosos, compõem a trajetória que frequentemente antecede o feminicídio”. Segundo Judá, do ponto de vista institucional, é importante enfatizar que o feminicídio raramente ocorre de forma abrupta. “Ele costuma ser o desfecho de uma escalada de violência que poderia ter sido interrompida se a vítima tivesse buscado proteção ainda nas fases iniciais. Por isso, reforçamos a necessidade de que qualquer situação que gere medo, intimidação, coerção ou humilhação seja tratada como um sinal de alerta”.
Assegura que a Polícia Civil, por meio da DEDM, está preparada para oferecer acolhimento qualificado, análise de risco, medidas protetivas de urgência e encaminhamentos necessários para garantir a segurança da vítima. “A mulher não precisa, e não deve, aguardar a ocorrência de uma violência extrema para procurar ajuda. A intervenção precoce é determinante para salvar vidas. Reitero que a responsabilidade nunca recai sobre a vítima.
A causa da violência é sempre a conduta do agressor. Nosso compromisso institucional é assegurar que toda mulher que nos procure encontre proteção, orientação e acesso imediato aos mecanismos legais disponíveis”, finaliza Judá Maali. Já os municípios com os maiores números são polos urbanos e econômicos, o que tende a refletir maior densidade populacional e, consequentemente, números absolutos mais elevados de violência.
Mas a maioria dos municípios aparece com um caso, o que mostra que o feminicídio não está restrito às grandes cidades, mas espalhado por todo o território estadual. A ampla distribuição geográfica dos casos reforça que o feminicídio é um fenômeno estrutural, ligado a fatores culturais, sociais e relacionais, e não apenas a contextos específicos.